21.6.07

era fácil tomar a opção correcta. tão fácil fazer o que todos os sentidos lhe diziam. algumas palavras. nem seriam necessárias muitas. e depois as noites deixariam de ser cheias de sonhos atormentados, os dias correriam mais devagar, os momentos seriam mais plenos e a vida seria mais cúmplice. menos madrasta.
era tão simples. não o fazia para não magoar e sem saber (ou saberia?) magoava todos os dias, uma roleta russa com balas para dois. uma só arma. as palavras... sempre as palavras como flechas. era simples. e o caminho que por alguns dias seria certamente confuso tinha a certeza de que agora sim, aquele era o caminho certo. e todas as amarras do peito se quebrariam e o sorriso nasceria nos lábios e a paz interior inundava a alma. os labirintos finalmente desvendavam a saída e a roda parava para poder finalmente respirar.

morria aos poucos na esperança de um dia se sentir a viver. na quase satisfação do que tinha e não do que queria. deixava para outras vidas o que não resolvia nesta e prolongava a dor através dos tempos. um dia talvez. um dia destes dizia. talvez numa outra vida. com outros corpos e outros rostos, sem a memória do caminho já percorrido. sempre a recomeçar. sempre a partir do zero. em cada começar o peso daquilo que não se fez. um peso cada vez maior. uma arma para dois.
tão simples e no entanto continuava ali. a quase gostar da vida que tinha. a viver aquela vida o resto dos dias talvez. Afinal até nem era mau. também não era bom. um hábito. uma anestesia. só não se sentia a viver. era antes como uma poça de petróleo sem escoamento á espera que alguém acendesse um fósforo para que se incendiasse.