3.5.06

A esperança é uma faca de dois gumes. Quanto mais se vive de esperança, se sente esperança de, mais ela nos dói. Mais longe tudo nos parece. Mais impossível. A esperança pode matar. Um dia descobrimos que afinal temos estado quase mortos só porque temos vivido de esperança. Só de esperança. Prolonga-se então a dor mas a esperança permanece. E dói. E mói. Deixamos de saber o que são esperanças válidas e o que são esperanças esqueletos. Que alimentamos e guardamos. Que amamos até. Pensamos nisso e é um estalo na cara. CLAP! Forte! Como as palavras ditas e as não ditas. Que são às vezes as que doem mais. Fartamo-nos de dar a outra face. E a mão, o pior, é que às vezes, é a nossa própria mão que nos bofeteia o rosto. Por causa das palavras não ditas...
Li ou ouvi, já não me lembro, no outro dia, alguém que dizia que no amor há sempre o que ama e o que se deixa amar. Não que não ame (ás vezes não ama.), mas ama com menos intensidade (eu não sei como isto é. O amar menos. Não consigo entender.). Dizia (ou escrevia) a pessoa em questão, que aquele que ama sofre muito. Acredito pois. Até porque já estive dos dois lados da barreira. O amar e o deixar-se amar. Mas o deixar-me amar, não era sinal de amar menos. Era sinal de amor diferente do desejado. Dai que não entenda muito bem este amar menos. E aqui entra a tal esperança... A que mói, a que dói. Sempre associei a esperança a uma coisa boa. A uma palavra positiva. Agora não. Sei lá porquê. Ou talvez saiba. Se calhar só não me apetece ir mais longe.
Ficar assim, suspensa entre o soluço que não se ouve e o sabor do beijo que já quase se perdeu. Mas a esperança.. A tal que mói e dói...

Entendo agora porque não coloco títulos no que escrevo. São peças de puzzles diferentes encaixadas umas nas outras e que formam imagens estranhas. Se um dia conseguisse arrumar tudo. As peças nos sítios certos. A harmonia das imagens correctas. São como os meus sonhos ultimamente, os puzzles que aqui deixo. Pedaços de uns e de outros encaixados à força ou porque dá mais jeito ali. Devo ter deixado peças espalhadas por todo o lado porque agora não as encontro. E farto-me de procurar... Canso-me. Gasto-me, mato-me, renasço e procuro de novo as peças perdidas... Tudo por culpa da esperança.