31.5.06

Sinto-me demasiado cansada para isto. Para qualquer coisa que envolva arrancar de dentro de mim emoções (e não sei escrever de outra maneira.). Elas vivem nos meus olhos a todo o momento. Queimando. Ardendo.
(acho que vou tirar dois dias para me forçar a chorar. Só para chorar. Porque senão, um dia destes, afogo o meu próprio olhar ou na pior das hipóteses, torno-me uma beata daquelas que vão a todos os funerais da aldeia, até aos de pessoas que não conhecem, só para chorarem as suas dores, como se das dores dos outros se tratasse. Só porque não querem olhar para dentro de si.)
Deus, onde é que tu andas que afogo-me a todo o momento e este equilíbrio que vou mantendo a muito custo (custa tanto manter o equilíbrio!) sobre um fio da espessura de milímetros, parece cada vez mais desequilibrado?
Conheço a sensação de queda. Conheço o chão onde se cai. Deixei-me ficar muito tempo por lá, até que resolvi aproveitar o tempo (as horas, tantas! Arrastadas.) a ganhar forças para trepar novamente pela corda de aço laminada que vai dar ao tal fio frágil como linhas de coser e na subida, tão ou mais difícil que a queda, cortei muitos laços que me uniam a muita gente e ficaram apenas pedaços de tecido desfiado que eu já não tento costurar porque já não vale a pena. Há coisas que nunca voltam a ser as mesmas depois de remendadas.
Enquanto os olhos queimam largo palavras, mais com raiva do que com qualquer outro sentimento, porque são elas que me vão dando o equilíbrio e em cada uma delas, em cada uma, estão pequenos focos do incêndio que me arde nos olhos a todo o momento.
Pudesse eu apagar estes fósforos que me tornam o olhar mais brilhante quando menos espero, numa combustão espontânea e não olhava para baixo, sempre que pé ante pé avanço e com o corpo a tremer tento dar mais um passo. Mas vou avançando, mais por instinto que por qualquer certeza de segurança.