10.9.06

A noite sempre soube onde moram os rios secos que me inundam os olhos. A noite, que chegou a sorrir, quando silenciosa, foi-me vestindo de preto, do preto que se cola à alma. A noite sempre soube da menina que ficou lá atrás na ânsia de crescer e da mulher que queria parar o tempo.
A noite que veste a lua cheia, cheia de graça, só para me lembrar do frio que se faz sentir, impedindo-me de trazer a pele quente. A noite arrepio, palavra sangue na qual deita sal, a noite dos amantes, dos instantes, do eterno e do que nos é roubado.
A noite sempre soube que nos pertencemos para lá do tempo e apesar do tempo, sempre soube da saudade dentro de nós, dos segredos que escondemos até de nós próprios - verdades feito lágrimas, dores como água de um rio que nos escorre pelo corpo e nos inunda até aos ossos.
A noite sempre soube a palavra verdade, a palavra poderosa que fecho em silêncio dentro de mim.
Porque a noite conhece o teu rosto e traz-mo de volta, como peças minúsculas de puzzles que vou construindo devagar rasgando a alma. E é a memória do teu rosto, dos teus olhos imensos, que vou prendendo na íris para que vivas para sempre no fundo dos meus olhos.