27.10.06

Avaria-me a máquina de secar roupa e o esquentador. Qual é a lógica? O mundo está-me a cair em cima devagar para não me custar tanto é? Pois senhor mundo fique sabendo que sempre preferi morrer rapidamente. Dói-me menos e não crio falsas esperanças. O Senhor 14 anos resolveu, ele sempre pacifico, sempre calmo, fazer-me a vida negra também. (Não, o senhor não tem 14 anos.)
No 23 deste mês vou a casa da mãe tomar banho, é logo aqui, agora é tudo logo aqui. Agora o meu mundo é mais pequeno e já não são 50 quilómetros para norte mas o meu mundo anda a ruir eu já vos tinha dito? Vou e encaro o pai, o pai que sempre viu para além de. O pai que olha, eu que fujo com o olhar e digo "já venho" e saio para o quintal, vou lá atrás, respirar, respirar. A Diana, a cadela que o pai acolheu um dia porque apareceu lá pelo quintal, perdida e faminta, olha para mim e também ela parece ver para além de. Será que os bichos são como as crianças e como alguns adultos? Que conseguem ler almas? Volto para dentro e digo que tenho que tomar banho. Que a "porra" do esquentador avariou. E digo sempre "porra" e "raios" quando não sei o que fazer, quando estou aborrecida, chateada. Quando regresso à sala o pai diz-me "Toma, era da avó Guilhermina". Seguro-o. O crucifixo de madeira da avó Guilhermina. O gesto que me faz sentir ainda mais pequenina do que me tenho sentido por estes dias. São os gestos, sempre os gestos que importam. Que contam. "Até logo pai".
O mundo a ruir e os mails que me chegam, todos os dias, um, dois, mails de quem chega aqui só porque escreveu no Google uma palavra triste, uma palavra silêncio e é sempre para aqui que o Google os traz. Escrevo-lhes. Ainda posso dar. Ainda consigo dar palavras de apoio. Ainda consigo ser o "colo" daqueles que me procuram. Faz-me menos triste dar alegria ou esperança a alguém.
A escrita deixou de importar também (novamente. Eu ando sempre ás voltas ainda não tinham reparado? Sou ciclica.), não é lírica como o JC dizia que era a minha escrita. É aparentemente clara mas isso é um engano. Está cheia de truques e palavras escondidas. É tão realista para mim que até dói. E quando dói não sou lírica. Sempre encarei assim a dor. É uma defesa. Encaro os embates de frente. Pelos cornos. Tudo com uma calma que até enerva quem se altera com qualquer coisa. Depois vai-me doendo todos os dias um bocadinho. Todos os dias. Todos. Prolonga-se e por isso dói mais. A tal fortaleza que sempre aparento. Quando já não posso mais escrevo. E é por isso que este blog é uma desgraça pegada cheio de tristeza. E não, não sou gótica nem me visto de negro da cabeça aos pés apesar de o negro ser a cor que mais visto ultimamente. Pelo menos dentro de mim. Ás vezes penso que um dia destes deixo estas palavras todas aqui em suspenso e vou abrir um blog de um servidor da China ou do Egipto em que ninguém me vai encontrar e em que vou escrever todos os "raios" e os "porras" que me lembrar só para alívio da alma sem achar que me vão ler e pensar "coitada está desequilibrada".
A escrita é só um escape. Sempre foi. Antes de caneta e papel. Agora com as tecnologias que só nos complicam a vida. Acham todos que nos facilita a vida mas é um engano. Isola-nos. A própria vida é um engano.

Vou comprar um esquentador.

Sou uma alucinada eu sei.