31.3.07

as palavras ardem nas mãos. se eu fosse hoje uma gota de água, faria um barulho diferente a cair. talvez não fizesse um único som. ainda que a queda fosse para dentro de um copo de água que transborda. ainda que fosse de uma altura vertiginosa. talvez não se ouvisse um único som. shhh... tudo no silêncio das dores que já não se notam. das dores que já consumiram todas as lágrimas possiveis. são frias e deixam os olhos vazios. apenas ao próprio se dão a mostrar.
parece que está tudo bem. dilacera o peito? já não há muito que dilacerar. as palavras endurecem e tornam-se paus, pedras, flechas que só nos atigem a nós. sempre a nós primeiro.
notam que chove agora, mas tem sempre chovido. são raros os dias de sol. veste-se um casaco quente e imagina-se que o frio é só exterior. a quem interessa na realidade? incomoda talvez. incomoda o sorriso dos outros. talvez eu não saiba ainda isso, talvez eu esteja apenas a aprender. tenho crescido por fora. sempre por fora. dentro da casa há uma criança que segura uma manta quentinha, vê desenhos animados para não perder o sorriso e recusa-se a sair do sitio onde está. para não sentir frio. para não ter que crescer por fora aos outros olhos. para não perder a réstea de inocência e de verdade. a pureza dos sentidos. e as palavras que eram tão preciosas.