29.5.06

Esperem. Aguardem mais um pouco. Aposto que as estrelas da noite, hoje, vão estar todas revoltas, vão descer sobre o mar e arrastar o azul com elas. A sério. Falo a sério. Toda a noite tive pesadelos. Com borboletas enroladas no cabelo, que me chega quase à cintura e que sempre teve esta cor indefinida. Não se ser loira nem ter cabelo castanho, deixa-nos com este cabelo quase da cor do café com o leite, que se bebia nas manhãs frias, junto à lareira da avó Guilhermina. Depois, numa fracção de segundos as borboletas voavam por todo o lado e eu queria dizer à minha mãe, que se calhar não gostava tanto de borboletas como pensava e não saia nem um som. Nem um. A minha mãe do outro lado do quarto, como por telepatia, que as mães têm todas um intercomunicador no coração, ligado directamente ao coração dos filhos, dizia-me que eu não tinha nada que ter tatuado aquela borboleta nas costas enrolada em cardos. E eu tento dizer-lhe que não são cardos, que o desenho é tribal e que me bastava a borboleta, mas que o tipo com brincos por todo o lado e com cabelo de crista, achou que ficava mais bonito assim e realmente ficou. E, oh mãe! só quero que abras a janela para estas borboletas saírem todas. Eu tento dizer-lhe mas ela não me ouve. Mas não sei se do esforço que faço, talvez do ar com força de vento que me saiu por todos os poros do corpo, as tenha assustado e elas desapareceram. Só ficou uma. Laranja. E quando penso em laranja cor chega-me o cheiro das laranjas do quintal atrás da casa dos meus pais. Acordei sobressaltada mas a cheirar-me a laranjas.
A minha avó contava-me que quando se sonhava com borboletas era porque durante a noite uma estrela ia cair no mar para lhe dar mais magia e fazer feliz Iemanjá. Pois se eu sonhei com tantas, milhares, só podem cair muitas estrelas, por isso não se admirem se olharem o céu e o verem negro como breu, é sinal que elas estão todas no mar.