9.5.06

Eu nunca falo nisto, que não gosto de falar de morte. Não da morte em si. Ou de um dia morrer. Não tenho absolutamente medo nenhum de morrer. Tenho como toda a gente medo de sofrer antes de partir daqui para o outro mundo, agora morrer assim como se fosse dar um suspiro e puff, disso não tenho medo. Da morte dos outros também não me faz confusão falar, até porque encaro a morte como uma passagem para outro lado ou lugar nenhum. Mas apenas uma porta que se abre e pronto. Os que ficam são os que sofrem. De saudade, de desgosto. Quem morre, morre e pronto. Não pensa que já não vai viver isto ou aquilo, não sente saudades. Digo eu. Sei lá se é assim. Mas a morte de que não gosto de falar, que tenho medo até de pensar nela, não vá tornar-se realidade, é a que paira sobre ti a todo o momento. Aquela que parece, se entranhou dentro da tua pele, aquela que é traiçoeira e que faz com que em muitos momentos te aproximes mais dela do que de mim. A que faz com que muitas vezes estejas nessa ausência que me corta o peito todo por dentro. Puta da morte! Que paira sobre ti a todo o momento. Que te leva os olhos para te mostrar que com ela tudo seria mais fácil. Sabes lá as vezes que já a tentei ludibriar para que ela não te chamasse. Tenho medo que ela te leve. Até te podia perder para qualquer mulher deste mundo que ainda assim, amar-te-ia até morrer, ainda que um dia conhecesse outra pessoa e ela fosse o meu futuro. Ainda assim amar-te-ia. Porque os momentos não se repetem, os cheiros dos corpos também não e a sintonia entre duas pessoas não se encontra ali ao virar da esquina. Por todos os motivos, todos. Sim, é dessa que tenho medo. É nessa que não penso, só porque tenho medo que por um cruel acaso do destino, o facto de pensar nisso se possa tornar realidade.
A todo o momento encho o peito de ar para que o sorvas, para que ao abrires os olhos consigas distinguir o claro do escuro, o cheiro da vida e o da morte. A todo o momento abro as válvulas do teu coração cada vez mais pequenino e injecto-o de ternura, tudo para que não te vás.
Eu nunca falo nisto, que não gosto de falar da morte.