20.5.06

Não consigo escrever. Formar frases coerentes. As palavras perdem a força a todo o momento. Estão cansadas. Só esperam pelo comboio das duas da manhã, onde tu vens, numa carruagem azul escura, com a lua cheia debaixo do braço.
As palavras vestem-se de silêncio e o mundo escorre-me pelas mãos como gotas de vento. Fecho os olhos e espero pelo comboio que não sei se chegará, porque o guarda do apeadeiro é distraído e às vezes abre a cancela no momento errado, tornando todas as viagens impossíveis.
As palavras vestem-se de silêncio, guardam-se nas mãos fechadas, nos lábios cerrados. Esperam pelo beijo que lhes traga sentido e que devolva a inocência e a alegria que só existe no olhar das crianças.