(3:16)
Eu devia estar a dormir. Assim, como vocês. Levantei-me às sete da manhã, que esta semana, mesmo que eu reze aos meus santos tem que ser às sete. Dormi talvez 4 horas a noite anterior. Eu devia estar a dormir porque me dói o corpo. Dói-me as pernas e um dos pés (que diz a minha tia Luísa "está "aberto". Põe o pé dentro de água bem quente e sal" - coisas que aprendeu com a avó Guilhermina. Eu não sei se sabem o que é ter um pé "aberto". É assim como uma entorse...mas diferente. Mas eu também não vos sei explicar.). O F. não me tem dado descanso e já não andamos apenas oito quilômetros por dia mas sim onze. A nacional dez já olha para nós e sorri, sempre que saímos do meio das árvores e percorremos cerca de três km com os carros a esquecerem-se que existem bermas para os peões. O F. participa em maratonas e quando estou mais cansada, começa a correr até eu quase o perder de vista e volta de novo para o pé de mim e ri-se. Nunca paro. Nunca gostei de andar a pé e durante anos só não estacionava o carro dentro das lojas e de todos os sítios onde ia porque não era permitido. Agora gosto. Após os primeiros kms deixa-se de sentir dor. Quando estamos quase a chegar ao ponto de onde partimos digo-lhe sempre que era capaz de andar mais vinte kms. Ri-se e diz-me que para o ano vou na maratona da ponte com ele. Duvido que vá. Um dia destes a alma (eu disse que já não a tinha não foi?) sossega e já não é preciso cansar tanto o corpo.
O mano chega-me pela internet agora. Lá longe. Mas podemos tornar sempre, o longe um pouco mais perto. Sempre!
(Que vos interessa isto? Um dia destes volto a pôr o contador aqui só por um dia ou dois, só para ver se a meia dúzia de almas que me lê já se foi embora. No dia em que isso acontecer, tiro os arquivos e escolho a opção "exibir 0 posts")
Deitei-me na cama acabada de fazer e a cheirar ao sabão da minha infância e o corpo descansou. Mas nem por uma vez o sono chegou. Nem uma. Estranho isto. (Não tem nada de estranho! Sei as razões, as causas cientificas e as explicações médicas para isto. São muitos e muitos anos de insónias e de distúrbios de sono. Dias há (cada vez menos e é por isso que usei a palavra "estranho") em que se não tivesse que acordar por variadíssimos motivos dormia dias seguidos. Parece que o sono me agarra, quer-me puxar, levar-me. Agora durmo menos e parece que não me causa qualquer transtorno. Não é verdade. As olheiras que tenho e a base para olheiras que nunca usei e que uso agora há cerca de mês e meio, desde o dia em que acordei com umas olheiras profundas e pensei que acabariam por atenuar à medida que o dia fosse passando mas que só se agravaram com a luz do dia. Convenço-me que o facto de não me sentir cansada é por ter agora mais resistência física. Quase me convenço. Mas sei que não e que um dia destes, mais dia menos dia, vou sentir o peso do mundo no corpo e não vou conseguir dar dois passos. Nesse dia abro as janelas (que gosto de janelas abertas, de sentir o ar a circular), fecho as portadas e durmo um dia inteiro. Mas antes que isso aconteça ainda tenho muita coisa para fazer. E se a alma está adormecida não quebro tão facilmente.
(3:46)
Escrevia um livro agora. Contava a minha vida desde o vinte e três de Março do ano da liberdade.
P.s- Definitivamente isto não é um blog.
(3:47)
Vou dormir!