29.6.06


(Sai-me o "amo-te" quase sem que eu dê por isso. No meio de qualquer coisa. A qualquer momento. Sai-me. Como se estivesses ali ao pé e te dissesse com um sorriso. Sai como se o coração estivesse cheio e a transbordar. Então o sentimento sai em forma de palavra para dar espaço ao coração. Porque é um amor que está em constante crescimento. Por muito que diga a palavra, por muito que vaze o coração ele torna a encher. Até deitar ternura por todos os poros da pele. Pelos olhos. E nesses dias em que a ternura é a palavra que vive, dizem-me muitas vezes " és tão calma. Aparentas uma serenidade tão grande." Ao início achava estranho que me dissessem que aparentava serenidade. Depois percebi que é verdade. Que as revoltas são só interiores, que o desassossego é só por dentro. Ninguém consegue ver não é?! (Só quem consegue ver para além do que se vê... Não são tantos assim.). Depois fiquei contente por isso, por essa sensação de paz que passo aos outros no dia-a-dia. Aqui, aqui sei que não passo essa serenidade, e às vezes fico triste comigo própria por trazer as dores dos outros à superfície. Escrevem-me mails às vezes e sinto-me quase culpada por causar tristeza aos outros. Digo "quase" porque sei que essa tristeza já vive dentro dessas pessoas.
O "amo-te" hoje fez parte do meu dia.
Há uns meses atrás, um dia, estava a fazer não sei o quê (acho que a preparar a sopa de abóbora), entretida naquilo que estava a fazer e de repente vieram-me as lágrimas aos olhos e pensei de mim para mim como se falasse para ti, como se estivesses ali "não sei o que estás a fazer mas estás a magoar-me profundamente." Aconteceu-me mais umas duas ou três vezes. Esse pensamento, essa sensação de dor e de mar nos olhos.
Uma outra vez, quando te contei que já estava a dormir mas acordei sobressaltada e sobe que estavas ali, disseste "tu já sabias que eu vinha mesmo antes de eu saber" eu sorri e pensei que devia ser verdade.
Claro que não falei nisso. Nem a ti. Deixai-os pensar que sou um mar de serenidade. Para quê tentar explicar aquilo que nem eu sei explicar. Sinto. Só sinto. Sempre foi assim. Sempre fui assim.
)