25.6.06


Já passou. Uma semana mais que já passou. Uma semana má. Mas a vida é feita de ciclos. A minha tem ciclos demais acreditem. Finjo que me reconstruo num piscar de olhos. Dois dias ou três. Eis que renasço de novo. Era tudo simples e bonito se não existissem dores que nem a morte mata. Era simples se tivesse uma perna ou um braço partido e me pudesse desculpar com isso. Com algo visível. As pessoas têm sempre uma necessidade desgraçada de ver as coisas. Já renasci vezes demais. Tantas que já me habituei a estas quase mortes. Tão natural como respirar. É tão triste habituarmo-nos às coisas. Aceitarmos tudo com um encolher de ombros. É tão triste.

Descubro, que a cada dia que passa, deixo de me esforçar por agradar ou ser simpática. Que digo aquilo que penso quase sem controlo. Já antes o fazia. Mas sentia muitas vezes que deveria ter dito mais. O que pensava. E não dizia só para não ser desagradável, ou mal interpretada. Detesto ser mal interpretada e depois perco-me em justificações e divagações que só confundem mais os outros. Até na escrita sou assim. Há que usar sempre a diplomacia e a boa educação, mas sem cortar as pernas à verdade. A minha. Pronto é a minha verdade, mas a minha verdade é aquilo que sinto. Em relação a tudo.

(enquanto escrevia este post surge o M. falo com ele. Já quase não falo com ninguém por aqui. Pela internet. Os meus amigos de sempre moram todos perto de mim. O M. é que está longe. Lá na outra ponta do pais. Digo-lhe "lembras-te de eu ter falado em ser sem alma? É assim que me sinto. Sem alma. E não me importo. Já não me importo. Já não dói. Só seca. Tudo." Chega a ser quase um alivio sentirmo-nos assim, vazios de alma. Não sentirmos. Não dói assim. O M. diz-me a meio da conversa " Não me sirvo, sirvo os outros". Calo-me. Sei que também eu não me sirvo. Sempre estive em divida para comigo, nunca me consegui amar da maneira que o deveria ter feito. Deixei-me perder nos outros, nas vidas dos outros. Como é que se pode ter paz se não nos damos connosco?)

Escrevo, hoje escrevo, sem que tivesse surgido o formigueiro nos dedos, sem que a sensibilidade me aflorasse os olhos, escrevo como se escrevesse qualquer coisa banal. Como se não fosse de mim, de sentimentos, de almas deitadas ao vento que falasse. Se houve alguma ternura neste texto (e houve) foi apenas quando falei no M., o resto foi tudo tirado desta cabeça agora muito mais crua, muito mais fria.
(as emoções hoje não tem espaço aqui. Estou demasiado humana para conseguir deixar a doçura que geralmente me veste tocar numa tecla que seja.)