13.6.06

Tenho um post em Draft desde hoje de manhã na minha cabeça. Tentei escrevê-lo assim que me surgiu mas o anjo loiro de 1metro e 25 estava entretido a jogar mahjong. Guardei-o em Draft porque descobri, afinal, que a causa destes dias todos que me pareceram anos, e que eu já desconfiava, esta eternidade dos dias, não podia ter sido só causada pela mudança da lua, tinha também a ver com esta trovoada que se abateu hoje sobre o dia. Choveu e sai para a rua. Que bom esta chuva que molha tudo.
Percebo que a escrita aqui parece demasiado...demasiado. Mas é mesmo assim e muitas vezes não se veste de tristeza ou desespero como a maior parte das vezes aparenta, mas sim de um não sentir, de um não ser. Como quando a nossa alma se afasta do nosso corpo.
O anjo ruivo de 1metro ocupou o computador logo de seguida, para abrir o WordPad e escrever em Arial tamanho 28 letras azuis e tive mesmo que guardar na minha cabeça de má memória o que quero escrever sobre o Paulo, que agora viu fugir-lhe a vida inteira do corpo e os sentidos anestesiaram-lhe o ânimo.
A avó Guilhermina disse-me tantas vezes que eu já devia saber de trás para a frente, que a chuva que cai do céu quando este está cheio de raios de sol, mexe-nos tanto ou mais com os nervos que o aparecer da lua cheia, que faz os bebés nascerem mais cedo e as flores resolverem dar o ar de sua graça. Mas a minha memória má que herdei da outra avó, a Laurinda, não me deixa muitas vezes lembrar desses segredos importantes sobre o meu interior que a avó Guilhermina me foi revelando ao longo da vida.
O anjo loiro de 1metro e 25, disse-me a avó uma vez, vai ser tal e qual, "vais ter de o chamar de vez em quando, quando o silêncio for muito prolongado, não vá ele esquecer-se que é aqui que pertence até ser chamado quando já for muito velhinho, e despegar-se do corpo".
Então choveu e lembrei-me. Choveu e tudo ficou mais simples, como um balão prestes a rebentar ao qual se desata o fio.