Isto não faz sentido nenhum. Eu sei que não é todos os dias mas é demasiado frequente esta sensação. Não faz. Ponto final. Ainda hoje a dona Fernanda com as suas mãos de fada e que tenta tirar-me o peso do mundo das costas de cada vez que lá vou, ainda hoje me dizia "vou-te fazer uma massagem às mãos" e eu respondi-lhe enquanto finalmente sentia a cabeça a não pensar nada "que bom, não imaginava que estivessem tão cansadas as minhas mãos". E ela que me responde que já me esqueci e digo-lhe que já passaram muitos anos. Doze. Muitos. Na altura em que também, ainda sem saber matava o tempo para não o sentir. E nessa altura fazia o liceu à noite, trabalhava ao fim de semana e de semana, oito horas por dia, tirava o curso técnico profissional que era para ser de massagem desportiva mas que a ultima da hora tiveram que mudar para massagem de estética porque apareceram 14 mulheres e um único homem como alunos. Porque todas sem excepção partimos do princípio que se era de massagem era de estética e de reabilitação. O luís que vivia na Arrentela, que ficou depois no curso só porque precisava do dinheiro, que o curso era subsidiado e durante ano e meio nos disse que não era nada daquilo que queria. O luís, a quem as senhoras que depois de saírem dos balcões do Totta e do Montepio, depois de fecharem as pastas e pousarem o martelo no tribunal recusavam como massagista, por ter umas mãos pesadas e violentas, que teve que suportar cinco meses de prática na clínica da dona Fernanda e onde só fazia tratamentos com parafina e parafango, repetia "não era nada disto que eu queria". Que será feito do luís? Um dia destes, ainda o vejo num canal qualquer de televisão, a correr campo a dentro num jogo de futebol para massajar as pernas aos jogadores. Ao Nuno Santos por exemplo. Outro que não sei que é feito. O Nuno era guarda-redes do vitória de Setúbal. Ainda me lembro dele no quinto ano. Enquanto depois das aulas íamos para trás do pavilhão, tocar guitarra jogar a jogos que não me lembro quais e namorar, o Nuno corria para o estádio do vitória. Loirinho com cara de menino. O Nuno era bonito. Sabia o que queria e era disciplinado. Anos depois era guarda-redes suplente de um grande. Não sei se do Benfica. Não sei que é feito dele.
(não me posso esquecer das virgulas. Esqueço-me sempre. Não sei onde as pôr mas vocês tem que respirar. Invento lugares para as virgulas)
Não faz sentido nenhum vir para aqui falar destas coisas e destas pessoas. Falar das memórias que consegui reter, daquelas que tive antes que a memória fosse parcialmente destruída, retalhada, como se de uma experiência científica se tratasse.
Canso as mãos. As mãos que a dona Fernanda mexe e remexe e puxa, tudo ao som de uma música ambiente que já conheço de trás para a frente, as mãos que não deveriam estar cansadas porque só escrevem o que sai do coração e esse sim está cansado.
Repito, não faz sentido assim. Esqueço-me do santo porque nunca sei esperar e aprendo a paciência todos os dias. Aprendi a paciência até para dormir. Não se fala do 2004 que o dois mil e quatro dói. O melhor mais tremendamente feliz e o pior ano da minha vida, por motivos diferentes mas que acabaram por se relacionar uns com os outros. Não se fala no dois--mil-e-quatro mas chega me todos os dias mal fecho os olhos e para não me lembrar invento posts na minha cabeça sem que faça por isso. Escrevo-os longos a falarem de mim, da família, dos amigos, dos conhecidos, dos que partiram e dos que permanecem. Esqueço-me do santo e quando falo com ele já só lhe digo obrigada por tudo o que tenho, por tudo o que possuo, por todos os que me amam e por aqueles que amo. Cuida deles. Olha por eles. já não peço nada e não deixo de me sentir uma ingrata, uma insatisfeita. Lembro-me dos desgraçados, das vidas sem rumo e penso que a minha também não tem rumo mas aparenta. E este é um mundo de aparências. Upa! uma salva de palmas para todas as capas que trazemos vestidas. Amanhã quando acordar, cheia de dores no corpo, da aeróbica e das caminhadas, do escaldão que apanhei hoje na praia porque adormeci por quinze minutos (15!!) ao sol, da noite mal dormida (sim que hoje é uma noite longa. Eu reconheço-as mal nascem), vou fazer uma série de coisas normais e banais e vou falar com as flores dos vasos (isto se calhar já não é tão normal, mas aprendi a falar com tudo o que respira, até com o que não respira. Pois se falo com o que os olhos não conseguem ver, só porque sinto.), vou dançar até quase cair para o lado, mais do cansaço que do redbull que esse só me acorda não me faz embriagar. Vou ver rostos e olhar para eles e reconhecer a tua nuca ou um olhar vazio, vou chegar vazia e oca na mesma mas cansada e com uma ténue sensação de felicidade porque dançar é um dos prazeres, uma das alegrias, e sei que amanhã, amanhã adormeço mal feche os olhos.
(desisto de tentar corrigir este post despois de ver a quantidade brutal de letras.(E as mãos que me doiam!) Desisto das vírgulas.
" Publicar postagem" que me sinto como se sentiria um simbolo chinês se caísse aqui agora.)