3.10.06

Era Outubro de novo. O Outubro das noites eternas, do casaco de pêlo preto, que me aquecia, na volta, depois do rio. O rio dava-me frio. O frio que eu carregava no corpo até o atravessar de novo. Era Outubro e os longos fios de cabelo louro, ficavam no teu casaco de cabedal, presos no cheiro da tua pele.
Não voltei a descer a rua da casa branca, à qual sabia ir, até de olhos fechados, apesar de me perder tantas vezes quando o caminho tinha nome de regresso. A distância.
A rua cúmplice das palavras pronunciadas ao ouvido, ditas baixinho para que apenas nós e o vento as escutássemos.
Não sei se houve Outubro antes. Mas sei de todos os que vieram depois. Não sei se o tempo mudou, se as árvores floriram e morreram depois, se a casa grande do outro lado da rua, é hoje habitada e o jardim cuidado por alguém que trata as flores com a delicadeza que elas merecem.
Não sei se a lua ainda se despe mais ai que em qualquer outro lugar na terra, se o vigilante da rua procura os meus passos nos teus olhos, se a noite chega mais cedo do que antes.
Não sei nada. Apenas que a tua mão permanece no meu rosto, na minha mão, nos meus cabelos, que o vento me traz o teu cheiro, como se de um milagre se tratasse e que há uma parte de mim que mora no outro lado do rio para além da vida e da morte dos dias.