(acontece-me ás vezes isto. Começo a escrever e esqueço-me. Este post ficou tão grande, mas tão grande, que o dividi ao meio (bem, mais ao menos ao meio. Depois publico o resto. Agora fica aqui em Draft.)
A B. liga-me e pergunta-me se quero almoçar lá em casa. Digo-lhe que sim, que podemos pôr a conversa em dia. Lembro-me então que a B. mora num sexto andar. Nunca os contei, mas sei que ainda são uns quantos degraus. O prédio onde ela vive até é relativamente recente e moderno, tem elevadores com espelhos daqueles grandes onde conseguimos mirar-nos completamente e devem ser seguros. Mas a verdade é que eu não confio em elevadores. Não é natural andar numa caixa pendurada por cabos, que tanto nos leva para cima, quase até ao céu, como para o fundo da terra.
A verdade é esta; tenho medo de andar de elevador! E de sítios fechados, pequenos. Elevadores! Panorâmicos então nem pensar. Quanto aos elevadores "normais", se for acompanhada, não digo nada (toda a gente vai pelo elevador!), entro no elevador e naqueles segundos (?) ou minutos, o meu cérebro simplesmente não funciona. Não assimilo nada do que me dizem, não olho para os espelhos, para nada. As pernas ficam fracas e tenho sempre a sensação que vou desmaiar, no momento exacto em que a porta da maldita caixa se abre e me salvo.
Isto das fobias é uma coisa completamente irracional. Ir ao dentista por exemplo... O meu dentista tem consultório no terceiro andar de um prédio antigo, com elevadores que parecem pertencer ao século XIX. (Nunca vou andar naquilo!). Assim subo a escada a pique, que vista de baixo parece tão inclinada que ninguém se conseguiria equilibrar nela. Quando lá chego vou sempre para a sala de espera da direita. A que tem a janela sem varanda. Sempre a da direita! Mas a sala é tão pequena e às vezes está tão cheia, que não me resta alternativa senão ir para a sala da esquerda. A que tem janela com varanda. (Daquelas janelas que não são janelas, mas portas.) É uma sala maior, mais arejada, mais iluminada, onde costumam estar as mães com as crianças. Escolho uma cadeira longe da janela e sento-me. Evito olhar para a janela (porta) que está sempre aberta e como é espaçosa os miúdos costumam estar lá muitas vezes brincar, ajoelhados no chão, com um dos muitos carrinhos que estão no cesto ao pé do vaso grande.
O parapeito deve ter uns...Um metro e tal! Não sei! Não tenho a noção de altura. Nem de peso. Nem sequer de distância. Deve ser mais uma partida da minha memória. Talvez não. Não me lembro de alguma vez ter noção dessas coisas. Mas sei que o meu "longe" é muito longe, que as 200gr de fiambre costumam ser-me entregues sempre que peço oito fatias e que quando (ainda hoje) me perguntam quanto quero de carapaus, digo "vá pondo que eu depois digo-lhe."
Pronto, evito olhar para a varanda. E quando algum menino se levanta, acho sempre que vai perder o equilíbrio e cair. (Já repararam que não ponho os pés nas varandas. Parece-me sempre que vou ter uma vertigem e cair sei lá como.). Quando são os adultos que se aproximam das varandas, não me incomoda. Parece-me uma acção tão banal que nem ligo, mas quando se trata de crianças, fico quase em pânico, com os sentidos e os reflexos todos alerta, como se numa fracção de segundos conseguisse saltar da cadeira mais distante da janela e segurar alguém pela camisa e evitar uma queda.
Eu sei que parece insano. Antes, quase que ficava indignada com as mães que estavam ali entretidas a ler e a tagarelar e os miúdos ali, num sitio tão perigoso, mas depois aprendi a usar a sensatez e a verdade é que os miúdos tinham que se pôr em cima de uma cadeira ou de um banco para correrem o risco de cair.
Não sei se por toda a vida ter vivido em casas térreas. A casa da minha mãe, com quintal, onde eu ia molhar os pés sempre que o meu pai ligava a mangueira para regar o feijão verde ou as cenouras e a minha, onde se eu saltar de alguma das janelas o mais grave que pode acontecer é pisar uma formiga, a verdade é que tenho medo de alturas.